segunda-feira, 5 de setembro de 2016

MINHAS MEMÓRIAS - VI - Minha primeira experiência como fotógrafo...

Desde criança que gosto de fotografias. Não sou apaixonado, amo-as. Viajo no tempo quando as contemplo.

Lembro de minha primeira câmara fotográfica. Era quase do tamanho de um livro. Adquirir no ano de 1972, quando tinha 14 anos. Comprei na Hermes quando os artigos tinham um pouco mais de qualidade. Era um dos representantes dessa empresa na cidade. Quando fiz o pedido através do correio, fiquei numa grande expectativa, inclusive programando uma viagem ao Serrote dos Bois, localidade onde residiam alguns de meus tios, para logo que ela chegasse. Seria minha primeira experiência como fotógrafo amador.

Quando recebi o aviso do correio informando que a encomenda da Hermes havia chegado, meus olhos brilharam, minha alma foi sacudida. Já havia arrecadado os valores dos outros produtos frutos dos pedidos de meus amigos e minhas amigas. O pagamento de minha máquina preciosa seria coberto pelo percentual que receberia das vendas. Tudo “nos conformes!”

Finalmente estava com a câmara em minhas mãos. Era minha, fruto de meu trabalho. Isso tinha um gostinho todo especial. Presente de Deus! Providenciei logo a entrega das mercadorias aos compradores. Depois fui “sonhar” a forma como iria utilizá-la.

Vi o tipo de filme que ela exigia, era em forma de rolo. Após fotografar, os negativos deveriam ser enviados ao laboratório para serem revelados. Naquela época nem se pensava em câmaras digitais. As fotos eram em preto e branco.

Com o que sobrou do que ganhei dos pedidos que fiz a Hermes, comprei dois filmes, cada um para doze fotos. Estava decidido. Inauguraria a “dita cuja” na viagem ao Sítio. Marquei para ir num domingo a casa dos meus tios. Mandei avisá-los do dia e fiquei contando as horas.

Finalmente chegou o dia. Domingo, logo cedo, acordei. Aliás, nem dormir direito. Levantei, chamei minha irmã, Auta, que sempre participava de minhas idas e vindas às casas dos meus tios e partir em direção ao Serrote dos Bois. Deixei para fotografar tudo lá. Afinal eram somente vinte e quatro fotos e deveria aproveitar cada uma, principalmente fotografando a família: tios, tias, primos e primas...

A distância da casa de meus pais em Santana do Ipanema, até o Serrote dos Bois era de nove quilômetros. Naquela época o percurso deveria ser feito a pé, de bicicleta ou de moto (lambreta). Sabia andar de bicicleta, mas ainda não possuía esse meio de transporte. Era coisa de “rico” e isso eu não era a não ser da graça de Deus. Fomos a pé! Nesse dia a viagem pareceu mais longa, isso em função da ansiedade que estava.

Chegamos! Fizemos a festa de sempre na chegada. Foi uma grande “folia”! Minha tia Donalva já estava nos esperando com a o café da manhã que tanto gostávamos: cuscuz com leite, ovos fritos, coalhada, bolachas, pães, café, chá e o que nós quiséssemos e que ela tivesse na sua dispensa.

Resolvi tirar as primeiras fotos durante o café. Aquela mesa farta e aquela alegria de minha tia servindo (meu tio Antônio já estava no campo trabalhando) e também de meus primos e primas deveriam ser registradas para a posteridade. Todos estavam na expectativa para as fotos. Fui então com toda “solenidade” até minha bolsa de viagem. Peguei a máquina como se estivesse pegando o bem material mais importante para mim, naquele momento. E era. Coloquei a mão no compartimento menor da bolsa para pegar o primeiro filme. Fazia questão que todos me vissem colocar o filme. Pensei! “vou impressionar!” Veio a surpresa como também a maior decepção de minha vida, até aquele instante. Quase tive uma síncope! Havia esquecido os filmes em Santana do Ipanema. Pense na decepção!

De qualquer forma aproveitei minha estadia com meus parentes, mesmo não sendo como as visitas anteriores. Vez ou outra me recordava do “bendito” esquecimento e sentia uma “pontinha” de tristeza.

À tardinha retornamos minha irmã e eu à Santana do Ipanema. Ficou a lição: apesar de minha pouca idade naquela época, refleti que nunca deveria deixar que a ansiedade e os instintos dominassem minha razão e minhas ações. Também deveria ter mais prudência ao fazer o que quer que seja, não fazendo nada pensando em impressionar, mas em colaborar... Os filmes foram utilizados em outra viagem não mais para o Serrote dos Bois, mas para o Serrote dos Franças, distante doze quilômetros de Santana, onde também residiam alguns tios e tias, primos e primas... A foto ilustrativa desse texto foi a única que restou daquela época. Nela está, na ordem: Ana filha de tio Marinho, Auta, minha irmã, Edna (ou Nazaré) e Luzia filhas de Tio Arlindo e Zilva também filha de tio Marinho. Saudades!

[De minha autoria]

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