Dando
uma passada em um dos portais da rede mundial (internet) para me atualizar
sobre o que acontece no Brasil e no mundo, uma notícia prendeu minha atenção:
um pai que assassinou seu filho e em seguida cometeu suicídio. Isso aconteceu
em Goiânia/GO.
O que me impressionou foi como cada autor
da notícia enfatizou o problema: “o pai
matou o seu filho após tentar impedi-lo de participar de manifestações
estudantis”, como se as manifestações fossem a causa da tragédia. E também
a maioria dos comentários feitos por internautas que atribuíram o problema a
conflitos consequentes de ideologias políticas, ou mesmo a transtornos psicóticos
do pai. Também muitos comentários sem a mínima preocupação com o fato em si, como
“deboches” em relação ao filho ou ao pai, hora culpando um, hora outro.
Independentemente de quem possa ter
a culpa, o ponto de partida para essa minha reflexão foi o que, segundo a
matéria da Veja, a mãe afirmou: “O amor
doentio do pai matou o meu filho”. Quero deixar claro que quem ama não mata.
Mas a paixão sim. Ela pode tornar-se doentia e fugir do verdadeiro amor.
Investigando o que se falou sobre o
pai e o filho na mídia e no perfil do filho na rede social (Facebook), pode-se
ver o problema de vários ângulos. Prefiro vê-lo a partir da família.
Ao contrário do que se espera de uma
família, onde o respeito pela individualidade de cada um; onde o que falta em
um possa ser complementado pelo outro, e que, do ponto de vista sociológico/cristão,
se viva a unidade a partir desse pressuposto, não existia.
De
acordo com o que se falou na entrevista, de um lado percebe-se um pai que
desenvolveu ao longo dos anos uma relação de paternidade totalmente equivocada
o que acabou num relacionamento psicopático entre pai e filho: “O pai era muito possessivo e tinha um amor
doentio pelo filho...”; “Prefiro morrer a viver desta forma, aprisionado pelo
meu pai”-palavras atribuída ao filho; “Se você sair, vou atrás de você e te mato”-palavras
atribuídas ao pai; “Uma vez, eles brigaram, e o Alexandre colocou o meu filho
para fora de casa. Ele até trocou as fechaduras das portas... Nesse período, o
pai dele ficou doido. Ficou mal demais. Pensei que ele iria morrer. Ficou
desorientado, porque ele tinha ciúmes. Ele era possessivo, louco por aquele
filho, e queria o melhor para o menino. Mas o melhor dele não era o melhor para
o meu filho...”; “Ele era tão apegado ao filho que poderia se suicidar. Fui
suportando essa situação, tentando contornar...” “Ele era uma pessoa muito
fechada. Não tinha amigos. Ele focou a vida dele só no filho...” “O Alexandre
nunca esteve bem com ele mesmo...” “Numa determinada ocasião, Alexandre me
falou que iria sentar no túmulo do pai dele e se suicidar com um tiro na
cabeça. Falei para ele ir a psicólogos. Mas ele odiava psicólogos... “Ele (o
Alexandre) era muito difícil. Tudo tinha que ser do jeito dele. Ele dava
opinião até no que o menino deveria vestir. Ele não gostava que o menino usasse
camisetas com estampas de rock. Não deixava usar. Mas o Guilherme usava
escondido... (Fragmentos da entrevista à Veja)
Do
outro lado está a mãe que, com uma submissão, sem a autoridade característica
de mãe e esposa, não se sabe se por medo ou outra motivação, ou mesmo “falta de
opção”, deixou que essa relação doentia entre pai e filho, e por que não,
também com ela chegasse ao ponto de culminar nessa tragédia.
Entre
os dois está o filho que, em um lar sem diálogo sadio, acabou desenvolvendo uma
personalidade tempestiva com o pai, respingando essa mesma personalidade na
sociedade. Isso porque grande parte do que se vive na sociedade é vivida antes,
na família. A família é a primeira sociedade, a primeira escola, a primeira
igreja...
A
amizade, o amor e o respeito entre pais e filhos é importantíssimo. Os pais não
devem criar os filhos apenas para si, mas para enfrentar o mundo. Isso porque, naturalmente,
a tendência é um dia, os filhos dar continuidade as suas vidas, sem a presença dos
pais. Se, existir uma interação saudável entre pais e filhos desde a mais tenra
idade destes; se os filhos se sentirem verdadeiramente amados, respeitados
pelos pais, eles assim como seus pais, dificilmente os abandonarão ou os
desrespeitarão. A obediência, o respeito se conquista pelo amor, não pela
imposição ou pelo medo. O amor deságua na vida; a paixão deságua na morte.
Lembremo-nos
de que o tempo faz com que os papeis se invertam: os pais geram seus filhos e precisam
tomar conta deles para que cresçam até saberem tomar conta de si mesmos; na
velhice são os filhos que deverão tomar conta dos pais até que eles terminem
seus dias... Isso, claro, se nenhum “acidente de percurso” acontecer.
Não
pensemos em quem individualmente possa levar as culpa, mas pensemos na importância
que devemos dar a família para que outras tragédias como essa não aconteçam...
[De minha autoria]