Uma
das realidades que mais preocupa o homem em todas as etapas da história, desde
a antiguidade, é a experiência da morte física. Esta realidade é compartilhada por
todas as religiões, raças, culturas; independente se ele, o homem, acredita ou
não em Deus. Se um dia ele entrou no mundo, um dia haverá de sair dele. Como
enfrentar esta experiência?
Afirmar não temer a morte é mentir
para si mesmo. O grau do temor será sempre inversamente proporcional a fé que o
homem possua em Deus e, logicamente a certeza da vida eterna.
No dia-a-dia de sua vida o homem vai
se envolvendo com os acontecimentos, procurando colocar em prática seus
projetos, construindo seu “mundo” particular e geral...[1] A
sua volta, o tempo vai correndo à revelia de sua vontade e o espaço vai se
modificando, expondo as marcas consequentes do agir humano, muitas vezes
desumano.
Nesse “vai-vem” do homem e do mundo,
morte e vida se entrelaçam, se abraçam. Lado a lado caminham... Aceite ou não
essa realidade, ela, a morte, está ali, presente, imponente, persistente!
Na própria interatividade do homem
com o meio, ele está vivendo e morrendo a todo instante. A cada opção que ele
faz, renuncia outra. Cada opção assumida é como que uma vida; cada renúncia é
como que uma “morte”, pois algo está sendo deixado para trás. Naturalmente que
a morte física não é querida como uma opção, mas ela chega cedo ou tarde como
parte do processo evolutivo do existir no tempo e no espaço.
Ao deixar de refletir sobre a
experiência da morte física, o homem abre mão da “aceitação” desta como
“companheira” nesta fase da vida; tende a apegar-se ao temporal, ser mais
egoísta. O grau de desespero quando estiver literalmente diante dela, seja em
relação a alguém ou a si mesmo será terrível, pois não consegue entender que o
mundo e tudo que lhe diz respeito também é provisório, ou seja, passa. No caso
da morte ter atingido alguém que ama terá uma monumental dificuldade de aceitar
a nova fase sem a presença física dela. Começará a culpar ao mundo e a Deus
pela suposta “tragédia”. Nega-se a verdade e dela se afasta, dificultando sua
convivência na família, na sociedade. Fica exposto ao perigo de fechar-se em
seu mundo, perdendo sua capacidade de sociabilidade, assumindo uma
personalidade depressiva que, se não tratada pode levá-lo também à morte, ou
simplesmente pode, passado o “choque”, afastar-se ainda mais de Deus, jogando nele
a total culpa dos fatos.
Quando o homem aceita o fato de a
morte andar emparelhada com a vida, e não nega uma reflexão sadia, começa a vê-la
sem preconceito. Conserva em si apenas o medo natural. Nada de fobias.
Igualmente ao que nega a morte, sofrerá quando esta “bater a sua porta”, entrar
na sua casa. A diferença é que compreenderá. Sabe que a vida biológica tem seu
ciclo. Sabe também que ela, a vida, não se acaba. A esperança da vida eterna
lhe abre novas perspectivas para que se readapte à realidade atual. Sabe que o
“amor é forte como a morte”[2] e
ainda a supera, isto é, quem ama não se deixa abater pelos revezes que enfrenta,
pois, o amor não morre jamais. Tem consciência do alcance das palavras de
Jesus: quando disse: “Eu sou a
ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em
mim jamais morrerá.”[3] Seu
amor pelo outro nunca acabará, pois “sabe”[4]
que o outro não morreu, se transformou, como ele também não morrerá, apenas se
“transformará.”[5]
[Pe. José Neto de França]