domingo, 22 de outubro de 2017

TIROTEIO NO COLÉGIO GOYASES: UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA?



           Diante de um fato que aconteceu no “Colégio Goyases”, na cidade de Goiânia, onde um adolescente de 14 anos, utilizando-se de uma pistola “.40”, de uso restrito, pertencente a sua mãe, que é militar, inclusive seu pai, assassinou dois adolescentes, colegas de classe, ferindo, ainda, outros, revela a fragilidade em que vive nossas crianças/adolescentes/jovens no tempo presente.

            Segundo textos postados nas redes sociais e também no que se falou nos programas jornalísticos nas TVs, que tive acesso, ele, o adolescente agressor, teria se inspirado nos massacres de Columbine, nos EUA, e Realengo, no Rio de Janeiro. Isso mostra que o ataque não foi algo de momento, mas planejado, o que demonstra “indícios” de traços psicopáticos na personalidade do adolescente.

            Ainda segundo a mídia, o estrago só não foi maior por causa da intervenção de uma coordenadora escolar que conseguiu contê-lo.

            A justificativa para tal desatino, ou o “gatilho” para que essa “fera” que existia dentro desse adolescente fosse libertada foi o fato dele ter sofrido “bullyng”, da parte de seus colegas.

            Lendo alguns comentários dos diversos textos que tive acesso na internet, chamou minha atenção dois deles: Referindo-se aos “conflitos“ entre crianças, uma internauta disse: “Tudo vira uma lembrança boa. Todos nós já vivemos isso. A mídia está acabando com tudo. Valorizando demais, instigando demais”; outra falou: “Bullying e zoacão é a mesma coisa o que diferencia são os adolescentes de antes para os de agora“.

            O comentário da primeira fala das “brincadeiras de mau gosto” entre as crianças dizendo uma verdade: “todos já vivemos isso”. De fato, quem não já foi “zoado” por alguma razão, na infância? Recordo-me de minha adolescência quando saia com meu grupo de amigos e alguns deles, sem conhecimento dos pais, consumiam bebida alcoólica e, pelo fato de eu não imitá-los, era “zoado”. E, naquela época, eu nem sabia que isso era “bullyng”. Aliás, não tinha nem noção de que existia esse termo. Só que, pela educação que tive, não levava a sério. Às vezes, para provocá-los também, deixava de pedir um suco, como sempre fazia e pedia um copo de leite. Eles ficavam bravos comigo, mas sempre acabava em resenha... Desse fato, como de tantos outros restaram apenas “uma lembrança boa”. Nada mais que isso.

            Ainda sobre esse primeiro comentário, há uma verdade profunda: “A mídia está acabando com tudo. Valorizando demais, instigando demais”, disse ela. De fato. Hoje, diferentemente do passado, o mundo com tudo de bom e de ruim que existe nele, entra facilmente e legalmente na nossa casa através da TV e da internet. Acompanha-se, inclusive, muitos acontecimentos em tempo real. Em minha época não era assim. A educação dada pela família era levada mais a sério. Nós crianças e adolescentes dávamos nossas “escapadelas”, mas que não interferia devastadoramente em nosso comportamento, a não ser em determinados casos. A questão está mais na família do que na sociedade e no que ela quer  “empurrar de goela abaixo” aos pais e aos seus filhos.

Até que ponto os pais acompanham mais de perto seus filhos. Pergunto-me: será que um pai e uma mãe que ama, verdadeiramente, seus filhos não percebem as mudanças de comportamento deles? Como os pais e mães de hoje interagem com seus filhos? Estão interessados no que eles aprendem e apreendem no “meio em que vive” (família, sociedade, aqui inclui a internet) ... até que ponto os filhos estão desenvolvendo a capacidade de “filtrar” aquilo que chega em suas vidas, através dos seu sentidos naturais (que são os sensores do corpo)? Até que ponto os pais, pelo menos os cristãos, ou mesmo os que professem outra religião estão interessados que seus filhos também vivam a fé no dia a dia? Como os pais estão desenvolvendo atividades familiares onde envolva todos os membros da família, para assim despertar neles esse “liame” que deve existir entre todos, pais e filhos? Humanamente, até que ponto a família é o que tem de mais importante para os filhos e também para os pais?...

            Já a segunda internauta, complementou o pensamento da primeira quando afirmou: “Bullying e zoacão é a mesma coisa o que diferencia são os adolescentes de antes para os de agora“. Alguém é livre para discordar que esses dois termos tenham conotações diferentes. Mas para mim, se alguém “zoa”, já está cometendo “bullyng”. E, de fato, o que “diferencia são os adolescentes de antes para os de agora”. Já expliquei essa diferença quando comentei a primeira postagem. O acesso as informações do que acontece no mundo, chega facilmente e legalmente por “duas portas” chamadas TV e Internet. Antes não era assim. A internet não tinha chegado ainda ao seu “advento” e a TV era restrita a camada social mais privilegiada financeiramente. Na mina casa, mesmo, a primeira TV fui eu que comprei quando tive meu primeiro emprego registrado em carteira. Ainda me lembro, foi em 1977 quando trabalhei em uma padaria na capital paulista e, aproveitei as férias para adquirí-la e doá-la aos meus pais que residiam em Santana do Ipanema/AL... Foi uma verdadeira “odisseia” trazê-la, de ônibus, do Sul para o Nordeste... Mas valeu a pena!

            A questão não está em condenar quem quer que seja. Mas avaliar o agressor no que diz respeito a sua saúde e enquadrá-lo, a partir do que for constatado nos laudos médicos, dentro do que diz o Estatuto do Menor e do Adolescente. É lei. Quanto às vítimas, refazer suas vidas a partir da tragédia, não centrando nela, mas no que pode ser mudado daqui para a frente na vida de cada uma. Lógico que os que foram à óbito, não têm como retornar ao ponto de partida. Seus familiares não têm outra coisa a fazer a não ser reorganizarem suas vidas sem a presença física de seus filhos. Isso é um fato. Aos que foram feridos, mas sobreviveram, incluindo seus familiares, guardar isso no coração, pois uma coisa dessa não se esquece; e tocar a vida adiante. Aos que sofreram agressões psicológicas, pois isso também marca, igualmente refazerem suas vidas, tanto porquê, a vida continua...

            Pelo menos, é isso que acho...

            E você? O que diz disso tudo???

[Pe. José Neto de França]

6 comentários:

  1. Belíssimo texto! Ele nos faz levantar questões que devemos levar a sério e, não como mais um episódio midiático.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Com certeza, José Antônio... esses questionamentos são importantíssimos para que procuremos manter a estrutura familiar saudável...

      Excluir
  2. Bom dia, Padre!
    Sou educadora há mais de 20 anos e posso confirmar que a juventude mudou e muito. Como educadora, também posso afirmar que a escola mudou, tanto pela necessidade de se ajustar a esse novo aluno, quanto pela nova forma de se conceber socialmente a educação: nossa autoridade foi questionada e enfraquecida, frequentemente submetida a julgamento (popular e/ou legal). E a família? Esta, então, foi completamente subjugada pelo Estado e os pais já não sabem mais o que é certo ou errado quando o assunto é educar filhos (vide proposta MEC sobre ideologia de gênero). Além disso, pai e mãe têm que trabalhar, muito, sempre, para garantir "qualidade de vida" aos seus e, assim, ter boas fotos pra postar no Facebook. As crianças? As enxergo como vítimas desta sociedade.
    Abraço!!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Excelente colocação, Cristiane Caldas... como educadores, precisamos contextualizar a família no tempo presente, mas sem perder o vínculo com os valores tradicionais...

      Excluir
  3. Lembro-me do meu ensino fundamental/médio onde havia muita zoação na turma, cada pessoa tinha um apelido. Tinha um colega que era o mais zoado se todos, todo mundo adorava apelidar ele e tirar sarro. Mas, quem apelidava sabia que estava sujeito a umas lapadas e tudo se resolvia lá mesmo. Não havia ódio acumulado, não havia premeditação, e a vontade de matar nunca se passou pela cabeça de ninguém. Mesmo nos dias onde as zoações não davam trégua; momentos depois da 'pisa' que os zoadores levavam ou de terem ido à direção, estavam todos alegres e felizes... Por que será que hoje em dia as pessoas pensam em resolver as coisas matando?

    ResponderExcluir