Diante de um fato que aconteceu no “Colégio Goyases”,
na cidade de Goiânia, onde um adolescente de 14 anos, utilizando-se de uma
pistola “.40”, de uso restrito, pertencente a sua mãe, que é militar, inclusive
seu pai, assassinou dois adolescentes, colegas de classe, ferindo, ainda,
outros, revela a fragilidade em que vive nossas crianças/adolescentes/jovens no
tempo presente.
Segundo textos postados nas redes
sociais e também no que se falou nos programas jornalísticos nas TVs, que tive
acesso, ele, o adolescente agressor, teria se inspirado nos massacres de
Columbine, nos EUA, e Realengo, no Rio de Janeiro. Isso mostra que o ataque não
foi algo de momento, mas planejado, o que demonstra “indícios” de traços psicopáticos
na personalidade do adolescente.
Ainda segundo a mídia, o estrago só
não foi maior por causa da intervenção de uma coordenadora escolar que
conseguiu contê-lo.
A justificativa para tal desatino,
ou o “gatilho” para que essa “fera” que existia dentro desse adolescente fosse
libertada foi o fato dele ter sofrido “bullyng”, da parte de seus colegas.
Lendo alguns comentários dos
diversos textos que tive acesso na internet, chamou minha atenção dois deles: Referindo-se
aos “conflitos“ entre crianças, uma internauta disse: “Tudo vira uma
lembrança boa. Todos nós já vivemos isso. A mídia está acabando com tudo.
Valorizando demais, instigando demais”; outra falou: “Bullying
e zoacão é a mesma coisa o que diferencia são os adolescentes de antes para os
de agora“.
O comentário da primeira fala das “brincadeiras de mau
gosto” entre as crianças dizendo uma verdade: “todos já
vivemos isso”. De fato, quem não já foi “zoado” por alguma
razão, na infância? Recordo-me de minha adolescência quando saia com meu grupo
de amigos e alguns deles, sem conhecimento dos pais, consumiam bebida alcoólica
e, pelo fato de eu não imitá-los, era “zoado”. E, naquela época, eu nem sabia que
isso era “bullyng”. Aliás, não tinha nem noção de que existia esse termo. Só que, pela educação que tive, não levava a sério. Às
vezes, para provocá-los também, deixava de pedir um suco, como sempre fazia e
pedia um copo de leite. Eles ficavam bravos comigo, mas sempre acabava em
resenha... Desse fato, como de tantos outros restaram apenas “uma
lembrança boa”. Nada mais que isso.
Ainda sobre esse primeiro comentário, há uma verdade
profunda: “A mídia está acabando com tudo. Valorizando demais,
instigando demais”, disse ela. De fato. Hoje,
diferentemente do passado, o mundo com tudo de bom e de ruim que existe nele,
entra facilmente e legalmente na nossa casa através da TV e da internet.
Acompanha-se, inclusive, muitos acontecimentos em tempo real. Em minha época
não era assim. A educação dada pela família era levada mais a sério. Nós
crianças e adolescentes dávamos nossas “escapadelas”, mas que não interferia
devastadoramente em nosso comportamento, a não ser em determinados casos. A
questão está mais na família do que na sociedade e no que ela quer “empurrar de
goela abaixo” aos pais e aos seus filhos.
Até
que ponto os pais acompanham mais de perto seus filhos. Pergunto-me: será que
um pai e uma mãe que ama, verdadeiramente, seus filhos não percebem as mudanças
de comportamento deles? Como os pais e mães de hoje interagem com seus filhos?
Estão interessados no que eles aprendem e apreendem no “meio em que vive”
(família, sociedade, aqui inclui a internet) ... até que ponto os filhos estão desenvolvendo
a capacidade de “filtrar” aquilo que chega em suas vidas, através dos seu
sentidos naturais (que são os sensores do corpo)? Até que ponto os pais, pelo
menos os cristãos, ou mesmo os que professem outra religião estão interessados
que seus filhos também vivam a fé no dia a dia? Como os pais estão desenvolvendo
atividades familiares onde envolva todos os membros da família, para assim
despertar neles esse “liame” que deve existir entre todos, pais e filhos? Humanamente,
até que ponto a família é o que tem de mais importante para os filhos e também
para os pais?...
Já a segunda internauta, complementou o pensamento da
primeira quando afirmou: “Bullying e zoacão é a mesma coisa o que
diferencia são os adolescentes de antes para os de agora“. Alguém
é livre para discordar que esses dois termos tenham conotações diferentes. Mas
para mim, se alguém “zoa”, já está cometendo “bullyng”. E, de fato, o que “diferencia
são os adolescentes de antes para os de agora”. Já
expliquei essa diferença quando comentei a primeira postagem. O acesso as
informações do que acontece no mundo, chega facilmente e legalmente por “duas
portas” chamadas TV e Internet. Antes não era assim. A internet não tinha
chegado ainda ao seu “advento” e a TV era restrita a camada social mais
privilegiada financeiramente. Na mina casa, mesmo, a primeira TV fui eu que comprei
quando tive meu primeiro emprego registrado em carteira. Ainda me lembro, foi
em 1977 quando trabalhei em uma padaria na capital paulista e, aproveitei as
férias para adquirí-la e doá-la aos meus pais que residiam em Santana do
Ipanema/AL... Foi uma verdadeira “odisseia” trazê-la, de ônibus, do Sul para o Nordeste...
Mas valeu a pena!
A questão não está em condenar quem quer que seja. Mas
avaliar o agressor no que diz respeito a sua saúde e enquadrá-lo, a partir do
que for constatado nos laudos médicos, dentro do que diz o Estatuto do Menor e
do Adolescente. É lei. Quanto às vítimas, refazer suas vidas a partir da
tragédia, não centrando nela, mas no que pode ser mudado daqui para a frente na
vida de cada uma. Lógico que os que foram à óbito, não têm como retornar ao
ponto de partida. Seus familiares não têm outra coisa a fazer a não ser
reorganizarem suas vidas sem a presença física de seus filhos. Isso é um fato.
Aos que foram feridos, mas sobreviveram, incluindo seus familiares, guardar
isso no coração, pois uma coisa dessa não se esquece; e tocar a vida adiante.
Aos que sofreram agressões psicológicas, pois isso também marca, igualmente
refazerem suas vidas, tanto porquê, a vida continua...
Pelo menos, é isso que acho...
E você? O que diz disso tudo???
[Pe. José Neto de
França]
Belíssimo texto! Ele nos faz levantar questões que devemos levar a sério e, não como mais um episódio midiático.
ResponderExcluirCom certeza, José Antônio... esses questionamentos são importantíssimos para que procuremos manter a estrutura familiar saudável...
ExcluirBom dia, Padre!
ResponderExcluirSou educadora há mais de 20 anos e posso confirmar que a juventude mudou e muito. Como educadora, também posso afirmar que a escola mudou, tanto pela necessidade de se ajustar a esse novo aluno, quanto pela nova forma de se conceber socialmente a educação: nossa autoridade foi questionada e enfraquecida, frequentemente submetida a julgamento (popular e/ou legal). E a família? Esta, então, foi completamente subjugada pelo Estado e os pais já não sabem mais o que é certo ou errado quando o assunto é educar filhos (vide proposta MEC sobre ideologia de gênero). Além disso, pai e mãe têm que trabalhar, muito, sempre, para garantir "qualidade de vida" aos seus e, assim, ter boas fotos pra postar no Facebook. As crianças? As enxergo como vítimas desta sociedade.
Abraço!!
Excelente colocação, Cristiane Caldas... como educadores, precisamos contextualizar a família no tempo presente, mas sem perder o vínculo com os valores tradicionais...
ExcluirLembro-me do meu ensino fundamental/médio onde havia muita zoação na turma, cada pessoa tinha um apelido. Tinha um colega que era o mais zoado se todos, todo mundo adorava apelidar ele e tirar sarro. Mas, quem apelidava sabia que estava sujeito a umas lapadas e tudo se resolvia lá mesmo. Não havia ódio acumulado, não havia premeditação, e a vontade de matar nunca se passou pela cabeça de ninguém. Mesmo nos dias onde as zoações não davam trégua; momentos depois da 'pisa' que os zoadores levavam ou de terem ido à direção, estavam todos alegres e felizes... Por que será que hoje em dia as pessoas pensam em resolver as coisas matando?
ResponderExcluirIsso mesmo Arthur...
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