sábado, 28 de outubro de 2017

O HOMEM DIANTE DA MORTE



            Uma das realidades que mais preocupa o homem em todas as etapas da história, desde a antiguidade, é a experiência da morte física. Esta realidade é compartilhada por todas as religiões, raças, culturas; independente se ele, o homem, acredita ou não em Deus. Se um dia ele entrou no mundo, um dia haverá de sair dele. Como enfrentar esta experiência?

            Afirmar não temer a morte é mentir para si mesmo. O grau do temor será sempre inversamente proporcional a fé que o homem possua em Deus e, logicamente a certeza da vida eterna.

            No dia-a-dia de sua vida o homem vai se envolvendo com os acontecimentos, procurando colocar em prática seus projetos, construindo seu “mundo” particular e geral...[1] A sua volta, o tempo vai correndo à revelia de sua vontade e o espaço vai se modificando, expondo as marcas consequentes do agir humano, muitas vezes desumano.

            Nesse “vai-vem” do homem e do mundo, morte e vida se entrelaçam, se abraçam. Lado a lado caminham... Aceite ou não essa realidade, ela, a morte, está ali, presente, imponente, persistente!

            Na própria interatividade do homem com o meio, ele está vivendo e morrendo a todo instante. A cada opção que ele faz, renuncia outra. Cada opção assumida é como que uma vida; cada renúncia é como que uma “morte”, pois algo está sendo deixado para trás. Naturalmente que a morte física não é querida como uma opção, mas ela chega cedo ou tarde como parte do processo evolutivo do existir no tempo e no espaço.

            Ao deixar de refletir sobre a experiência da morte física, o homem abre mão da “aceitação” desta como “companheira” nesta fase da vida; tende a apegar-se ao temporal, ser mais egoísta. O grau de desespero quando estiver literalmente diante dela, seja em relação a alguém ou a si mesmo será terrível, pois não consegue entender que o mundo e tudo que lhe diz respeito também é provisório, ou seja, passa. No caso da morte ter atingido alguém que ama terá uma monumental dificuldade de aceitar a nova fase sem a presença física dela. Começará a culpar ao mundo e a Deus pela suposta “tragédia”. Nega-se a verdade e dela se afasta, dificultando sua convivência na família, na sociedade. Fica exposto ao perigo de fechar-se em seu mundo, perdendo sua capacidade de sociabilidade, assumindo uma personalidade depressiva que, se não tratada pode levá-lo também à morte, ou simplesmente pode, passado o “choque”, afastar-se ainda mais de Deus, jogando nele a total culpa dos fatos.

            Quando o homem aceita o fato de a morte andar emparelhada com a vida, e não nega uma reflexão sadia, começa a vê-la sem preconceito. Conserva em si apenas o medo natural. Nada de fobias. Igualmente ao que nega a morte, sofrerá quando esta “bater a sua porta”, entrar na sua casa. A diferença é que compreenderá. Sabe que a vida biológica tem seu ciclo. Sabe também que ela, a vida, não se acaba. A esperança da vida eterna lhe abre novas perspectivas para que se readapte à realidade atual. Sabe que o “amor é forte como a morte[2] e ainda a supera, isto é, quem ama não se deixa abater pelos revezes que enfrenta, pois, o amor não morre jamais. Tem consciência do alcance das palavras de Jesus: quando disse: “Eu sou a ressurreição. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá. E quem vive e crê em mim jamais morrerá.”[3] Seu amor pelo outro nunca acabará, pois “sabe”[4] que o outro não morreu, se transformou, como ele também não morrerá, apenas se “transformará.”[5]

[Pe. José Neto de França]


[1] Ele “enxergará” o mundo segundo sua personalidade; o mundo para cada pessoa será “da cor que ela pinta”.
[2] Ct 8,6
[3] Jo 11,25-26
[4] Tem consciência através da Palavra da Deus e da fé.
[5] Ver 1Cor 15,51-57

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