terça-feira, 4 de julho de 2017

SEDE MISERICORDIOSOS, COMO TAMBÉM VOSSO PAI É MISERICORDIOSO (Lc 6,36) - Retiro do Clero de Palmeira dos Índios-2017 - CHAMADOS AO DISCIPULADO – 2ª Conferência – manhã de 04 de julho de 2017



           O pregador, Pe. José Augusto iniciou a primeira conferência do segundo dia de retiro desse ano, fazendo referência à São João da Cruz, ligando o dia em curso com a palestra de abertura desse mesmo retiro, realizada na noite anterior, sem fugir do contexto do Tema central: “Sede misericordiosos, como também vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).

            São João da Cruz nos coloca diante da experiência que muitas vezes temos que viver, a caminho de uma intimidade com Deus, a fim de descobrirmos o infinito amor de Deus por nós. Embora muitas vezes o caminho pareça noite, não no sentido físico, temporal, mas existencial, não podemos desanimar. Ele, Deus, o caminho, é longo. Devemos ter o olhar de peregrino, aquele que está sempre a caminho. A experiência de escuta leva-nos a colocar nossa confiança no Senhor.

            A exemplo de Pedro, temos que reaprender, refazer o caminho...

            Citando Jo 1,35-42, disse o pregador que saber onde Jesus mora é o objetivo da busca de todo discípulo. É essencial andar com Ele, estar com Ele, morar com Ele. Afirmou que estamos no retiro em busca desse encontro. Permanecer com Jesus é estar sempre indo ao encontro d’Ele. Se nos alegramos, estamos com Ele; se estivermos sofrendo, na tristeza, permanecemos na paz com ele, e somente n’Ele.

            Após essa meditação, Pe. José Augusto fez uma reflexão sobre as “quatro noites da salvação”, os estágios de todo ser humano, de que falou Bruno Forte.

         A ceia da Páscoa judaica, quando se prepara a mesa, são colocadas quatro taças; o encontro do Onipotente com o seu povo e com a humanidade inteira...

            1ª Noite: Amor sublime. Lembra a criação. É a noite que antecede a criação. O Senhor que se abriu para criar. Deus vive a experiência do amor humilde. Ele que vai nos criar à sua imagem e semelhança. Não podemos encontrar o homem se não olharmos para Deus.

            2ª Noite: A noite de Abraão, da fé (Gn 22). Conforme já exposto, noite, não no seu significado físico/temporal, mas da experiência da busca; na experiência de quem passa pela “noite” na esperança, na vigília, na espera...

           Abraão vai viver nessa noite a experiência mais profunda, onde ele vai ter que decidir entre seu filho, Isaac, a razão de sua vida temporal, carnal e Deus. A questão não está em encontrar as “benesses” de Deus, mas encontrar Ele; para n’Ele e somente n’Ele viver.

           Deus vai educando Abraão para que ele compreenda que o que importa é buscar a Deus. A iniciativa nunca será do homem, mas de Deus. É Deus quem faz com que o homem sinta sede de Deus.

            Com cem anos Abraão começa o caminho da fé.

           Deus ao pedir que Abraão sacrifique seu filho Isaac, está pedindo, para o humano, o “impossível do impossível”.

            Na subida ao monte, Abraão fica humanamente só, mas na companhia de Deus; na solidão, não vazia, mas preenchida do amor divino.

            Como Abraão, temos que tomar nossas decisões ao longo da vida, com todos os nossos medos, inseguranças... Ele foi capaz de sacrificar tudo porque chegou à conclusão de que o único capaz de preencher o coração é Deus.

            Se centrarmos em nós mesmos, vamos nos prender as nossas falsas seguranças. Temos que olhar, ir para Deus! Abraão aprende a lição. Ele está disposto a sacrificar seu filho Isaac (projetos, vida...).

            O homem de fé está sempre no limiar do crer e do não-crer. Na religião, o homem dita; na fé, é Deus quem dita...

            3ª Noite: a noite Moisés. Se a noite de Abraão foi chamada de “noite da fé”, a de Moisés é chamada de “a noite da libertação”, “noite da esperança transformadora”. Textos base: At 7,20-49; Ex 3; Dt 32 e 34.

            Quando Moisés completou 40 anos tinha a educação do palácio, mas tinha também conhecimento de sua origem hebraica. Foi quando largou a comodidade do palácio para ficar do lado de seu povo. Ele pensava em libertá-lo. Mas o projeto até, então, era humano, ou seja, dele. Nesse primeiro momento ainda é muito forte o “eu” pessoal. Ao cometer um assassinato, ele coloca por terra seu projeto e foge. Agora, nem palácio, nem povo. Passa 40 anos no deserto. É aqui que ele descobre o Deus, de verdade. Um Deus que não pode ser manipulado, um Deus que não cabe nos seus esquemas. Agora a iniciativa é de Deus. A sarça ardente é um caminho longo de aprendizado.

            O grande perigo nosso, hoje, é fechar-nos em nós mesmos, achar que somos autossuficientes... obrigatoriamente, temos que fazer o caminho do deserto...

            Moisés vai ser enviado, não mais segundo seus projetos, mas no projeto de Deus. Não é, simplesmente, Moisés quem vai com Deus, mas será Deus quem vai com Moisés...

           Moisés, vai cumprir, mesmo em meio aos desafios temporais a missão que foi lhe confiada. Ele avistará à terra prometida, mas não entrará nela, quem entrará com o povo será Josué. Ele subirá ao monte, outra vez, só, na solidão da escolha, mas com a presença de Deus... Na verdade, ele não foi punido, mas agraciado. Irá se encontrar com seus antepassados...

            4ª Noite: a expectativa do Messias, a “noite do Messias”; para nós a noite do amor crucificado. Jesus faz sua escolha livre, no amor do Pai (Lc 22,14-17). Sua entrega é livre. No discurso do Bom Pastor, Jesus diz: “O Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo e tenho o poder de a dar, como tenho o poder de a reassumir. Tal é a ordem que recebi de meu Pai” (Jo 10,17-18). E quando Pilatos, provocando-o diz que tem o poder para soltar ou crucificar Jesus, ele responde: “Não terias poder algum sobre mim, se de cima não te fora dado...” (Jo 19,11a).

            Humanamente Jesus teve medo. A liberdade custa muito caro. A tentação é não aceitar a cruz.

           Essa é uma experiência que nos torna livres. A experiência da “quarta noite”. Jesus ressuscitado nos estimula para esse caminho.

            O pregador encerrou esse encontro novamente citando São João da Cruz.

            A fonte que jorra e que precisa ser buscada é Deus. E não é uma busca única. Essa busca é constante e perdura por toda nossa vida. Apesar da cegueira, das dificuldades, da aridez da caminhada, necessitamos perseverar nessa busca de onde Deus mora.

           Jesus é a fonte que independentemente das “noites” da vida, deve ser buscada.

[Pe. José Neto de França] 

Texto produzido a partir de minhas anotações durante a conferência. 

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