O pregador, Pe. José Augusto iniciou
a primeira conferência do segundo dia de retiro desse ano, fazendo referência à
São João da Cruz, ligando o dia em curso com a palestra de abertura desse mesmo
retiro, realizada na noite anterior, sem fugir do contexto do Tema central: “Sede misericordiosos, como também vosso Pai
é misericordioso” (Lc 6,36).
São João da Cruz nos coloca diante
da experiência que muitas vezes temos que viver, a caminho de uma intimidade
com Deus, a fim de descobrirmos o infinito amor de Deus por nós. Embora muitas vezes
o caminho pareça noite, não no sentido físico, temporal, mas existencial, não
podemos desanimar. Ele, Deus, o caminho, é longo. Devemos ter o olhar de
peregrino, aquele que está sempre a caminho. A experiência de escuta leva-nos a
colocar nossa confiança no Senhor.
A exemplo de Pedro, temos que reaprender,
refazer o caminho...
Citando Jo 1,35-42, disse o pregador
que saber onde Jesus mora é o objetivo da busca de todo discípulo. É essencial
andar com Ele, estar com Ele, morar com Ele. Afirmou que estamos no retiro em
busca desse encontro. Permanecer com Jesus é estar sempre indo ao encontro d’Ele.
Se nos alegramos, estamos com Ele; se estivermos sofrendo, na tristeza,
permanecemos na paz com ele, e somente n’Ele.
Após
essa meditação, Pe. José Augusto fez uma reflexão sobre as “quatro noites da salvação”, os estágios
de todo ser humano, de que falou Bruno Forte.
A
ceia da Páscoa judaica, quando se prepara a mesa, são colocadas quatro taças; o
encontro do Onipotente com o seu povo e com a humanidade inteira...
1ª Noite: Amor sublime. Lembra a
criação. É a noite que antecede a criação. O Senhor que se abriu para criar.
Deus vive a experiência do amor humilde. Ele que vai nos criar à sua imagem e
semelhança. Não podemos encontrar o homem se não olharmos para Deus.
2ª Noite: A noite de Abraão, da
fé (Gn 22). Conforme já exposto, noite, não no seu significado físico/temporal,
mas da experiência da busca; na experiência de quem passa pela “noite” na
esperança, na vigília, na espera...
Abraão
vai viver nessa noite a experiência mais profunda, onde ele vai ter que decidir
entre seu filho, Isaac, a razão de sua vida temporal, carnal e Deus. A questão
não está em encontrar as “benesses” de Deus, mas encontrar Ele; para n’Ele e
somente n’Ele viver.
Deus
vai educando Abraão para que ele compreenda que o que importa é buscar a Deus.
A iniciativa nunca será do homem, mas de Deus. É Deus quem faz com que o homem
sinta sede de Deus.
Com
cem anos Abraão começa o caminho da fé.
Deus
ao pedir que Abraão sacrifique seu filho Isaac, está pedindo, para o humano, o “impossível
do impossível”.
Na
subida ao monte, Abraão fica humanamente só, mas na companhia de Deus; na solidão,
não vazia, mas preenchida do amor divino.
Como
Abraão, temos que tomar nossas decisões ao longo da vida, com todos os nossos
medos, inseguranças... Ele foi capaz de sacrificar tudo porque chegou à conclusão
de que o único capaz de preencher o coração é Deus.
Se
centrarmos em nós mesmos, vamos nos prender as nossas falsas seguranças. Temos que
olhar, ir para Deus! Abraão aprende a lição. Ele está disposto a sacrificar seu
filho Isaac (projetos, vida...).
O
homem de fé está sempre no limiar do crer e do não-crer. Na religião, o homem
dita; na fé, é Deus quem dita...
3ª Noite: a noite Moisés. Se a noite
de Abraão foi chamada de “noite da fé”,
a de Moisés é chamada de “a noite da
libertação”, “noite da esperança
transformadora”. Textos base: At 7,20-49; Ex 3; Dt 32 e 34.
Quando
Moisés completou 40 anos tinha a educação do palácio, mas tinha também
conhecimento de sua origem hebraica. Foi quando largou a comodidade do palácio para
ficar do lado de seu povo. Ele pensava em libertá-lo. Mas o projeto até, então,
era humano, ou seja, dele. Nesse primeiro momento ainda é muito forte o “eu”
pessoal. Ao cometer um assassinato, ele coloca por terra seu projeto e foge.
Agora, nem palácio, nem povo. Passa 40 anos no deserto. É aqui que ele descobre
o Deus, de verdade. Um Deus que não pode ser manipulado, um Deus que não cabe
nos seus esquemas. Agora a iniciativa é de Deus. A sarça ardente é um caminho
longo de aprendizado.
O
grande perigo nosso, hoje, é fechar-nos em nós mesmos, achar que somos autossuficientes...
obrigatoriamente, temos que fazer o caminho do deserto...
Moisés
vai ser enviado, não mais segundo seus projetos, mas no projeto de Deus. Não é,
simplesmente, Moisés quem vai com Deus, mas será Deus quem vai com Moisés...
Moisés,
vai cumprir, mesmo em meio aos desafios temporais a missão que foi lhe
confiada. Ele avistará à terra prometida, mas não entrará nela, quem entrará
com o povo será Josué. Ele subirá ao monte, outra vez, só, na solidão da escolha,
mas com a presença de Deus... Na verdade, ele não foi punido, mas agraciado.
Irá se encontrar com seus antepassados...
4ª Noite: a expectativa do
Messias, a “noite do Messias”; para
nós a noite do amor crucificado. Jesus faz sua escolha livre, no amor do Pai
(Lc 22,14-17). Sua entrega é livre. No discurso do Bom Pastor, Jesus diz: “O Pai me ama, porque dou a minha vida para a
retomar. Ninguém a tira de mim, mas eu a dou de mim mesmo e tenho o poder de a
dar, como tenho o poder de a reassumir. Tal é a ordem que recebi de meu Pai”
(Jo 10,17-18). E quando Pilatos, provocando-o diz que tem o poder para soltar
ou crucificar Jesus, ele responde: “Não
terias poder algum sobre mim, se de cima não te fora dado...” (Jo 19,11a).
Humanamente
Jesus teve medo. A liberdade custa muito caro. A tentação é não aceitar a cruz.
Essa
é uma experiência que nos torna livres. A experiência da “quarta noite”. Jesus ressuscitado nos estimula para esse caminho.
O
pregador encerrou esse encontro novamente citando São João da Cruz.
A
fonte que jorra e que precisa ser buscada é Deus. E não é uma busca única. Essa
busca é constante e perdura por toda nossa vida. Apesar da cegueira, das
dificuldades, da aridez da caminhada, necessitamos perseverar nessa busca de
onde Deus mora.
Jesus
é a fonte que independentemente das “noites” da vida, deve ser buscada.
[Pe. José Neto de França]
Texto produzido a partir de minhas anotações durante a conferência.
Texto produzido a partir de minhas anotações durante a conferência.
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