Assistindo, contemplando esse vídeo,
voltei ao passado, puxei do meu consciente, talvez até do inconsciente,
centenas de “fotos” e “filmes” que estão neles arquivados, alguns já “amarelados”
pelo tempo...
Esse rio foi palco de muitas de minhas aventuras,
ou mesmo parte do dia a dia de minha vida...
Inúmeras foram as vezes em que
acompanhei meu pai quando ele ia buscar água para nosso consumo... também minha
mãe ou irmãs quando elas iam lavar roupa ou louça em suas águas cristalinas.
Quando o rio secava, cacimbas que eram abertas em sua areia e a água que “minava”
era aproveitada. Nessa época morávamos no Bairro da Floresta. Em muitas dessas
idas, em companhia de familiares, aproveitava para pescar de anzol ou de
copo/garrafa (qualquer hora dessa direi como se pescava de copo/garrafa). Nesse
tempo, Santana do Ipanema ainda não era abastecida pela água do Rio São
Francisco... isso só aconteceu anos depois...
Tomar banho, pescar, jogar bola em suas
areias ou simplesmente brincar ou sentar-se sobre alguma das pedras existentes
em suas margens para contemplá-lo foram hábitos do passado...
Guardo recordações boas e más. Mas,
as boas superam... tanto porque, creio que tudo que acontece, deve existir um
propósito...
Recordo-me de que pequenino, entre
quatro e seis anos, residindo no bairro da Floresta tinha que atravessar, de
canoa, esse rio, de segunda à sexta, para ir ao Grupo Escolar Padre Francisco
Correia, onde estudava com minha irmã, Auta. Essa escola ficava na parte da
cidade, do outro lado do rio.
Quando se aproximava a hora de ir para
o Grupo e de retornar para casa, entrava numa espécie de pânico. O canoeiro era
alcoólatra, as canoas (duas) eram mal conservadas. Inúmeras vezes, alguém tinha
que ficar tirando água de dentro delas, com um balde, por causa de furos... Não
existiam salva-vidas. Acho até que o canoeiro nem sabia o que era salva-vidas...
A questão não era “pegar” ou “largar”!
Era “pegar” mesmo. Não tinha outra opção!
Lembro-me de que uma tarde, estava
na sala de aula quando chegou a notícia (notícia ruim corre depressa) de que o
Ipanema estava “chegando água” (enchendo). Foi o suficiente para que eu entrasse
em pânico. A diretora foi comunicada e eu fui liberado mais cedo com a minha
irmã para que eu retornasse logo para casa. Vim chorando, da escola até o rio.
Chegando à margem do rio percebi que
as suas águas estavam bem mais volumosas, de coloração “barrenta” devido a
cheia. Muita gente estava olhando, dos dois lados de suas margens. Avistei meu
pai do outro lado que, já sabendo de meu medo, estava aguardando a canoa para
vir ao meu encontro. Ele acenou com a mão. Eu vi com os olhos, mas não com o
senso crítico.
Apavorado, aproveitei um descuido de
minha irmã, soltei a mão dela e corri em direção a uma parte estreita do rio.
Nesse ponto a correnteza estava fortíssima, mas na minha mente de criança,
achava que daria para passar a pé. Estava a ponto de entrar quando alguém veio,
por trás, me pegou e me puxou em direção a si. Só me recordo até aqui. Acho que
minha mente bloqueou o que aconteceu depois disso, pois só me lembro de estar
nos braços de meu pai, já do outro lado do rio, com ele me acalmando. Se não
fosse a pessoa que me pegou e puxou, certamente tinha morrido afogado nesse
dia.
Como se pode perceber esse rio foi, para
mim, palco de muitas alegrias, mas também de terror. Mas o positivo, supera o
negativo... valeu cada aventura, cada risco...
Já residindo no bairro da Camoxinga,
onde estava livre das travessias de canoas, me lembro apenas de dois fatos ruins.
Um de extrema negatividade que foi um sequestro relâmpago que sofri quando
tinha entre sete e oito anos e fui levado até a margem do rio. Mas sobre isso
falarei na minha autobiografia que estou escrevendo. O outro, foi um incidente
que acabou se transformando numa coisa boa.
Tinha entre doze e treze anos, acho.
Estava observando um pessoal pescar, de rede. Enquanto espreitava, na primeira
chance que tive, sem que ninguém percebesse, peguei uma rede, fiz, com ela,
todo movimento que tinha visto os pescadores fazer e joguei sobre as águas. O
problema é que, em função de estar agindo sem o consentimento dos pescadores,
estava ansioso e, por descuido, eu fui junto com a rede. Soltei a rede e caí
num local de certa profundidade. O medo foi tão grande que, num ato de “defesa
da vida”, conseguir subir, e acabei, não me perguntem como, nadando até a
margem. Foi nesse dia que aprendi a nadar.
Foi nesse rio que salvei a vida de
uma criança que estava se afogando. Estava tomando banho; subi em uma de suas
pedras para pular e mergulhar, quando vi o corpo de uma criança de
aproximadamente quatro anos, descendo pela correnteza... estava, de bruços, sob
as águas aparecendo acima delas apenas seus cabelinhos... Imediatamente
mergulhei, peguei a criança e procurei seus responsáveis. Sua mãe encontrava-se
a algumas dezenas de metros acima do rio. Fui até ela e entreguei seu filho.
Ela estava lavando roupa e num pequeno descuido a criança entrou no rio. Ela
agradeceu muito. Eu retornei e continuei com meus mergulhos...
Sair de Santana precocemente, ia
completar 17 anos, onde fui “tentar” a vida na cidade grande, São Paulo, na
qual residi por 12 anos. Sempre que saí de férias, vim a minha terra natal para,
entre tantas outras coisas, matar a saudade desse “velho” rio.
Caçar passarinhos, brincar de
esconde-esconde em suas margens, fazer competições de mergulhos ou mesmo
apostar quem ficava mais tempo sob às águas, naturalmente, sem respirar, foram
brincadeiras homéricas do passado (essa última não recomendo pra ninguém)...
Se eu continuar “vasculhando” minha
memória, muitas coisas virão à tona...
Quem sabe outro dia!!!
Como você pode ver, o Padre também é
um ser humano normal!
[De minha autoria]
Crédito do vídeo: copiado do perfil de Arisvaldo Pinto, no Facebook, que foi postado no dia
04 de junho desse ano de 2017.
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