Complementando
a reflexão sobre “as noites” da vida na conferência anterior, o pregador falou
sobre um texto do Cardeal Martini. Disse ele que contemplando o mistério de
Cristo crucificado e relendo os evangelhos e toda escritura chega-se a uma
coerência profunda. Tudo teve e tem um sentido. Faz-nos entrar vivos na
experiencia de uma vida de homens frágeis a procura de uma esperança que não
nos desiluda.
A
experiência de Deus sempre é inusitada. Nós nunca poderemos abarcá-la. Cada
experiência é única, nova. Necessitamos está sempre à escuta, em vigília, à
procura. Essa é a grande motivação. Exige-se um reinício constante no exercício
da comunhão com o Senhor.
Buscar,
caminhar! É uma aventura sempre nova; uma vivência que vai dar sempre alegria
(porque é vislumbrada) e ansiedade (por estar sempre adiante).
O
sacramento nunca é pronto, completo no sentido que possamos abarcá-lo. Ele é
acontecimento salvífico. É sempre novo, sempre nos diz algo diferente.
A
Igreja não pode se refugiar no rito como aconteceu um pouco nos séculos XVII e
XVIII, o que trouxe consequências danosas.
Estamos
sempre na luta da “noite” ou “noites” da vida, no risco do querer ver e querer
ter (tomar posse)...
Nossa
segurança nunca será nós mesmos ou o que possamos ter. Nossa segurança só pode
ser Deus. Se deixarmos Ele estará sempre em nós.
Quem
estar na luta, jamais se frustrará!
Retomando
o tema central do retiro, “Sede misericordiosos, como também vosso Pai
é misericordioso” (Lc 6,36) disse o Pe. José Augusto que a experiência da
misericórdia é a experiência do acolhimento. Deus quer nos tirar do anonimato e
nos colocar numa experiência de comunhão. E o caminho para a comunhão começa na
Palavra. Nela vamos experimentando, vivenciando a salvação.
Baseando-se no texto de 2Tm 3,14-17,
disse que sendo a Palavra inspirada por Deus, a Bíblia nos incita a escutar. A
Palavra falada antecede e excede a Palavra escrita. Ela é o acontecimento salvífico
que aí está. A experiência da escrita é obra de amor. Logo não devemos escutar,
por ofício, mas por amor. Precisamos ter a sede pela Palavra para deixar-nos
ser conduzidos por ela.
Em Jr 15,16, Ez 3,1ss; Ap 10,8-11 -
O “comer a Palavra” mostra a intimidade
com Deus. Ele dá-se a nós. Ao contrário do homem, para Deus não há distinção
entre o dizer e o fazer, pois o que Ele diz, faz. Mesmo quando silencia, seu silencio
continua sendo ação. Seu silêncio também nos fala, pois seu silêncio também é
Palavra.
O Vaticano II nos aponta a “Lectio Divina”, “Leitura orante da Bíblia (Palavra)” como alimento para a vida e
assim não nos deixarmos desanimar nas “noites” da existência. A Igreja não dá
para ser cristã, a não ser pelo prisma da Palavra. Sem a Palavra perde a sua
dinâmica.
O Vaticano II não critica, ele
apenas diz que o Espírito nos convoca para uma nova experiência...
A Palavra está contida também na
Tradição. Foi, por ela, que a Palavra chegou até nós. A bíblia foi escrita pelo
povo de Deus, para o povo de Deus, por inspiração do Espírito de Deus.
A Palavra tem VOZ, a REVELAÇÃO; tem
ROSTO, JESUS CRISTO; tem CASA, a IGREJA; tem CAMINHO, a MISSÃO.
Sem a Palavra não se tem uma Igreja
renovada, não se tem a compreensão do mistério.
O Documento de Aparecida fala sobre
quatro eixos que a Igreja precisa urgentemente fazer acontecer:
1 – Experiência dinâmica com Cristo;
2 – Eclesiologia – não podemos fazer
somente o que pensamos ou que nos agrade;
3 – A formação Bíblica-doutrinal;
4 – A missionariedade.
Em relação a Palavra, nenhum de nós
somos donos dela, somos sim, seus servos. Não podemos querer dizer o que ela
não diz.
O Sacerdote é o homem de Deus,
pertence a Deus; faz pensar em Deus.
[Pe. José Neto de França]
Texto produzido a partir de minhas anotações na conferência.
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