terça-feira, 22 de agosto de 2017

A IGREJA NÃO É CASA PARA PERFEITOS, MAS UM HOSPITAL PARA ENFERMOS



             Lendo um artigo na rede mundial de computadores, uma frase me fez refletir bastante: "A Igreja não é casa para perfeitos, mas um hospital para enfermos".

            De fato, se a Igreja é “peregrina”, significa que, quem faz parte dessa fase dela, ainda não atingiu seu grau máximo de santidade. É uma Igreja “a caminho”. Se ela não precisasse buscar mais nada, não teria mais sentido de existir temporalmente.

            Fundamentada em Pedro (Mt 16,18; Jo 21,15-17), nascida do sangue (Eucaristia) e da água (Batismo) que jorraram do lado aberto de Jesus Cristo, na Cruz (Jo, 19,31-36) fortalecida/ungida pelo Espírito Santo de Deus, em Pentecostes (At 2); nunca vai deixar de ser Santa, pois foi instituída pelo próprio Cristo. Sua instituição é, portanto, divina e não humana.

            Por outro lado, ela, a Igreja, apesar de ser o corpo místico, do qual Jesus Cristo é a cabeça (1Cor 12,12-27; Cl 1,18; Ef 1,22-23.5,23.29); mesmo sendo guiada pelo Espírito Santo, é administrada pelo ser humano. Daí dizer que, mesmo sendo santa, é pecadora.

            Afirmar que a Igreja é pecadora não é dizer que ela viva no pecado, mas admitir que seus membros, independentemente de quem sejam, sendo humanos, e não divinos, estão sujeitos ao pecado. Estão num processo contínuo de conversão.

            A santidade de um não justifica o pecado do outro. Igualmente, o pecado de um não diminui a santidade do outro. Em outras palavras, assim como um fiel com alto grau de santidade não vai levar quem quer que seja, ou mesmo todos os membros da Igreja, em suas costas, para o céu, outro que possa ter cometido um grave erro, não arrastará a Igreja inteira ou alguém para o inferno.

            Vale lembrar que, assim como quem se santifica pode induzir alguém ao acerto, quem comete pecados graves, pode também induzir alguém ao erro. Porém, é no íntimo do seu coração que cada pessoa decide seu rumo, sua vida. Por isso mesmo que o “todo” jamais pode ser julgado por uma de suas “partes”.

            É certo que o escândalo (pecado, principalmente grave) dilacera muito o corpo. Jesus Cristo nos preveniu sobre isso quando disse: “É inevitável que haja escândalos, mas ai daqueles que o causar. Acautelai-vos!” (Lc 17,1.3).

            Em hipótese nenhuma, alguém pode argumentar como razão principal de ter se afastado da Igreja o pecado de algum de seus membros. Este pecado certamente que contribuiu, mas não foi o principal. Pode até ser a “puxada no gatilho” que estava faltando para o distanciamento do fiel. Na verdade, quando um membro da Igreja se afasta, está apenas concluindo um processo que já teve seu início a tempos. A falta de engajamento; de interesse, compromisso com a Palavra de Deus; o descuido para com a oração, particularmente a oração maior da Igreja, a Eucaristia; a não procura, valorização do Sacramento de Penitência; o “não ver o próximo” como extensão de si mesmo... são passos largos dado pelo “fiel” para que Deus passe a não ser mais amado “sobre todas as coisas” como diz o Primeiro Mandamento. Enquanto o tempo passa esse distanciamento provoca progressivamente uma espécie de “anestésico espiritual” na vida do “fiel”. A somatória de tudo isso, já se sabe no que vai resultar: o afastamento da Igreja e de Deus.

            Claro que quanto maior for a função de um membro da Igreja, mais relevantes são suas atitudes, sejam elas positivas ou negativas. Daí o cuidado, a vigilância que o fiel deve ter em ralação a si mesmo (1Pd 5,8-9).

            Mais que olhar para os outros em busca de suas falhas, é necessário olhar para dentro de si próprio.

           O fiel deve, portanto, olhar para a Igreja focado no seu interesse maior, não os membros dela, mas sua Cabeça, Jesus Cristo. Se o foco for outro, certamente a deixará. O nosso próprio existencial nos ensina que, quando mudamos nossa atenção principal para fora do que quer que seja que estejamos fazendo, querendo, tenderemos ao fracasso.

            A Igreja, deve ser vista, assim, como essa “Mãe” acolhedora; esse “hospital para enfermos”, sedentos de santidade. No centro dela não está sua hierarquia, seus grupos, movimentos, pastorais, mas Jesus Cristo verdadeiramente homem e verdadeiramente Deus.

            Logicamente que seus membros devem se esforçarem por promover um ambiente acolhedor, tal o “colo” de uma mãe amorosa que acolhe seus filhos e filhas.

            É nesse “colo” que a Mãe Igreja vai procurar ser canal para que a Trindade Santa sare, cure as “feridas” de seus membros; promova condições para que estes sintam a ação do amor misericordioso de Deus em suas vidas.

[Pe. José Neto de França]

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