segunda-feira, 22 de agosto de 2016

MINHAS MEMÓRIAS...



Vendo a primeira foto que está em uma página no Facebook, "Antigamente era assim", voltei ao passado, exatamente entre junho de 1972 e fevereiro de 1973 e me lembrei dessa história que tem como consequência a segunda foto...
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Junho de 1972. Nas décadas de sessenta e setenta, era comum que os adolescentes e jovens que “sonhasse” com um futuro promissor, fizessem o curso de datilografia.

Em Santana do Ipanema, esse curso era oferecido pela “Escola de Datilografia Senhora Santana”. Era uma escola particular, de propriedade da Senhora Floraci Limeira, mais conhecida por “Dona Flora”.
Como eu alimentava o sonho de trabalhar em um banco, decidi que faria esse curso. As mensalidades não seria problema para mim, pois desde cedo aprendi a trabalhar para adquirir o que os meus pais não podiam me dar, não por que não quisessem, mas porque não podiam. Pagaria as mensalidades com o que ganhasse carroçando nas feiras livres.

A escola ficava na rua D. Belmira Brandão, 335. Resumia-se em uma sala, não muito espaçosa, na casa da proprietária e diretora, “Dona Flora”. Nessa sala haviam mesas individuais, tipo carteiras escolares, e sobre essas mesas as máquinas datilográficas. Em cada máquina havia um protetor feito de lata que ficava sobre as teclas. Esse protetor era removido nas primeiras semanas para o aluno adaptar-se a posição de cada tecla. Depois era recolocado e deveria permanecer até o final do curso. Isso para o aluno aprender a teclar, sem olhar para as teclas, somente para o papel.

O aluno iniciava o curso digitando sequências de letras (a s d f g; ç l k j h...), que eram repetidas num determinado número de vezes, passando a seguir, a digitação de palavras; depois frases, e, por último, já próximo do final do curso, textos, incluindo ofícios, recibos... que deveriam ser digitados num tempo pré-definido.

Foi uma grande novidade para mim. Sentia-me feliz e agradeci muito a Deus por ter-me dado essa possibilidade de fazer esse curso, já que nem todos na cidade tinha acesso a ele pelo fato de ser particular.

No meu tempo, a maioria das máquinas eram antigas, algumas em péssimo estado de conservação. Normalmente os alunos novos pegavam, no começo essas máquinas.

Entre tantos “incidentes” acontecidos durante o curso, um deles marcou esse período.

Uma das primeiras instruções que recebi de “Dona Flora” foi a de que eu executasse somente o que estava na lição de cada dia, e da forma que ela determinasse; nem mais, nem menos. Por exemplo: nas lições iniciais, em nenhuma hipótese, eu deveria tocar na tecla vermelha, “tab”. Fiquei curioso! Por que não? Ela devia ter me explicado o porquê.

Duas semanas depois, durante uma das aulas, “Dona Flora” deixou a sala, por alguns instantes. Era a ocasião que estava precisando para "matar" minha curiosidade. Então pensei: “- é agora! ”

Olhei para me certificar de que ela não estava vindo; coloquei o dedo sobre a “tecla vermelha” e fui apertando devagarinho... De repente o “carretel” que segurava o papel disparou de vez, desgarrando da máquina, indo parar no chão da sala. Tomei um tremendo de um susto! Quase derrubava a mesa e caía da cadeira! Não sabia se o medo era por ter transgredido uma regra ou pelo fato de ter “desmontado” a máquina.

Com o estardalhaço que fiz, “Dona Flora” rapidamente retornou à sala e me repreendeu severamente. Disse-me que se eu desobedecesse outra norma seria expulso do curso. Eu, calado estava, calado fiquei. Percebi, porém, que enquanto ela me repreendia, mantinha em seu semblante uma certa ironia! Era como se ela já esperasse por isso ou algo parecido. Prestei bastante atenção enquanto ela recolocava no seu devido lugar, a peça que saltara fora da máquina. Essa atenção foi de grande valia, já que em outros momentos durante o curso esse problema repetiu-se, não mais como consequência de minha curiosidade, mas por problemas nas máquinas.

Ao longo do curso, em vários momentos, tive que “concertar” a máquina que utilizava ou mesmo a de algum colega. Cheguei à conclusão de que foi até interessante não pegar uma máquina nova, pois acabei aprendendo não somente a datilografar, mas a montar e desmontar uma máquina de datilografia..

Concluí, com méritos, o curso no dia 04 de fevereiro de 1973.

3 comentários:

  1. Nas décadas de 60 e 70 o curso de datilografia tinha praticamente a mesma importância que o curso de informática nos dias de hoje...

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  2. Realmente, e foi o curso de datilografia que me fez ingressar no meu primeiro emprego....tantos sonhos...

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  3. Realmente... Lembro da alegria que sentia a cada "lição" feita naquelas "preciosidades" que eram as "jurássicas" máquinas datilográficas da escola de "Dona Flora".
    Naquele tempo um de meus sonhos de consumo era uma máquina datilográfica... Outro era uma bicicleta (mas isso fica para outra história... Kkkkk...)
    Minha primeira máquina só fui adquirir anos mais tarde, ainda na década de setenta, quando comecei a trabalhar no Banco Econômico, na capital paulista (mas essa é também outra história...)

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